A palavra-chave quando se trata de explicar a atração exercida pelos travestis parece ser ambigüidade. Eles são percebidos simultaneamente como homem e mulher, uma incongruência que mexe com as profundezas da psique humana. O travesti mobiliza o desejo como mobiliza a repulsa, afirma a psicanalista carioca Regina Linz. Ela vê duas razões no fascínio pelos travestis. A primeira é que, por ser uma mulher com pênis, ele captura os restos das fantasias sexuais infantis. A outra está no fato de os travestis encarnarem a feminilidade de uma forma absoluta, que nenhuma mulher contemporânea aceitaria. Só um travesti saberia ser tão feminino quanto quer a fantasia de alguns homens. Se alguém sabe o que é ‘ser mulher de verdade’ (uma ficção masculina), é justamente o travesti. Os próprios travestis são taxativos ao afirmar que seus fregueses procuram neles a diferença: a mulher com falo, a fantasia, o risco. Transgressão é essencial. O proibido atrai, afirma um travesti com 20 anos de experiência nas ruas, que hoje trabalha na Secretaria de Assistência Social da Prefeitura do Rio de Janeiro. As coisas que se dizem sobre os homens que saem com travestis são lendas machistas.
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